Thursday, December 12, 2019

Sleep (Fernando Pessoa)

Sleep! Where there are no hopes or needs,
Where only the floating white cloud goes
And in the quiescent blue repose
The goddess of nonbeing weaves both braids.

Malignant breath of strenuous stillness,
Perennial forehead and feverish eyes,
And a dream forest of cries
Shadows the lids dead of goodness.

Ah, to be consciously nothing!
Pleasure or pain? The torpor brings it along,
And the complicit shadow prolongs
At its inner nadir the life of thinking.

I do not know myself. Embrace me, future,
In the cheerless paths where I dream.
And in the leisure with which I seem
To find myself wandering, slow and obscure.

My life closes like a fan.
My thoughts desiccate
Like a vague summer lake.
Life readies flowers to dry in my hands.

So the misunderstood ardor for the void
Is absorbed … into redundant
Alienation from the life of the moment ...

---------------------------------------------------------------
Dormir! Não ter desejos nem esperanças
Flutua branca a única nuvem lenta
E na azul quiescência sonolenta
A deusa do não-ser tece ambas as tranças.

Maligno sopro de árdua quietude
Perene a fronte e os olhos aquecidos,
E uma floresta-sonho de ruídos
Ensombra os olhos mortos de virtude.

Ah, não ser nada conscientemente!
Prazer ou dor? Torpor o traz e alonga,
E a sombra conivente se prolonga
No chão interior, que à vida mente.

Desconheço-me. Embrenha-me, futuro,
Nas veredas sombrias do que sonho.
E no ócio em que diverso me suponho,
Vejo-me errante, demorado e obscuro.

Minha vida fecha-se como um leque.
Meu pensamento seca como um vago
Ribeiro no Verão. Regresso, e trago
Nas mãos flores que a vida prontas seque.

Incompreendida vontade absorta
Em nada querer... Prolixo afastamento
Do escrúpulo e da vida do momento...